sábado, 27 de março de 2010

     Conjuntura I (reflexão de um não marxista)

     No Capital, Karl Marx - que viveu e escreveu em pleno século XIX, longe ainda da sofisticação do capitalismo global dos nossos dias -, refere que o essencial objectivo do capital é reproduzir-se e que, simplificando o raciocínio, na sequência desse processo, gera o chamado capital sombra, uma espécie de dinheiro virtual, capaz de, em certas circunstâncias, fazer ruir todo o edifício económico/financeiro; eu diria que este, para se manter de pé, depende, única e exclusivamente, de fé (a crescente laicização da sociedade teve um efeito de aparente sacralização no domínio da economia e das finanças: temos de acreditar na actual fórmula do crescimento. A doutrina do crescimento infinito não é apenas a maior mistificação do nosso tempo, também é a mais perigosa e a mais absurda. Num mundo onde reinam impunemente mistificadores, especuladores, falsificadores, mentirosos e bandidos de toda a espécie (alguns servidos por excelentes escolas de marketing e comunicação), não podemos deixar de reconhecer em Marx a capacidade para explicar o mundo actual e boa parte das suas fragilidades.
"...nem os reis iriam para o céu sem levar com eles os ladrões, nem os ladrões iriam para o inferno sem arrastar com eles os reis.", Padre António Vieira, 1641