sexta-feira, 30 de julho de 2010

     É sábado à tarde e o tempo prenuncia as quentes monotonias do Verão próximo; a uma mesa redonda da esplanada do café Mythos – o mais chique da avenida marginal, a mais movimentada da cidade – estão sentados dois casais e duas crianças: os homens, grisalhos e ralos os cabelos, suspiram para as suas chávenas de café; as mulheres, juvenis os gestos e a graça, vestidas de gargalhadas coloridas, sorvem laranjadas por palhinhas às riscas azuis e brancas; as crianças, um menino e uma menina, cada uma ao lado de sua mãe, lambem enormes cones de sorvete derreado ao sol, a esvair-se em fusões cremosas de baunilha e morango.
     – Papá, hoje prometeste que subíamos no balão, lembras-te? – pergunta a voz de sete anos com sabor a morango do menino, enquanto aponta com o dedinho indicador para o enorme balão de ar quente aos gomos amarelos violeta e verdes, plantado do outro lado da marginal, junto ao areal da praia, que costuma subir às horas certas, enlevando os turistas na visão aérea da cidade. O pai contempla o balão sem responder, mas sorri e todos sabem que vai cumprir a sua promessa.
     – Vamos lá, então, vamos lá.

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"...nem os reis iriam para o céu sem levar com eles os ladrões, nem os ladrões iriam para o inferno sem arrastar com eles os reis.", Padre António Vieira, 1641