quinta-feira, 15 de julho de 2010











    
     Nem sei se é bom vivermos os dois na mesma  cidade: é grande demais para o acaso de um encontro e o propósito que temos não nos impele a coincidir nos passos que há muito, desde sempre, as ideias apartam. Sabe bem este café, diferente no sabor daqueles das pequenas cápsulas, café azul, café violeta, café vermelho, café dourado, a máquina das maravilhas coloridas que me ofereceste avariou-se, sabes, começou a deitar água, encheu a chávena, a chávena transbordou e pronto, reparei logo na pequenina luz vermelha sempre acesa, como um semáforo, a avisar que se acabaram os cafés. Tenho um amigo muito diferente de ti, gosta de me ouvir falar, creio não conhecer dele senão meia dúzia de monossílabos usados com moderação para comentar as pausas do meu discurso; acho-lhe graça porque coloca sempre os óculos para me escutar, como se lesse nos lábios, nos olhos, na expressividade das rugas, as palavras que ficam por dizer. Da última vez encontrámo-nos numa livraria, convidou-me para almoçar, estava disponível, aceitei, ele pagou e consegui ouvir-lhe duas ou três frases completas cujo exacto sentido não recordo, mas lembro-me de o achar particularmente feliz, coisa rara, e eu senti-me também muito alegre nesse dia.

4 comentários:

  1. Há aqueles que sabem ouvir, e percebemos pelos seus gestos no silêncio que eles nos compreendem.

    Belo texto.

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  2. Adoro perceber essas aparentes excentricidades nos indivíduos...

    Um abraço,
    Doce de Lira

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  3. Bonito texto e seu blog também é bonito, criativo no titulo e nas fotos que mostram o nosso passado.
    beijos

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  4. obrigado pelo teu comentario

    como sempre gostei de ler-te



    um abraço

    feliz verâo!!

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"...nem os reis iriam para o céu sem levar com eles os ladrões, nem os ladrões iriam para o inferno sem arrastar com eles os reis.", Padre António Vieira, 1641